Mirror's Edge

Assunto: Mirror's Edge 28/03/09, 05:10 pm

Pulando, correndo e rolando com Faith
Por Redação em 11/18/2008 4:01:00 PM
Apesar de ser uma companhia com um bom tempo de formada, a sueca Digital Illusions CE tem sua atual reputação por conta da série de guerra em primeira pessoa Battlefield. Após uma variedade de títulos desta vertente, a DICE foi comprada em 2004 pela Electronic Arts... e eis que um dos games produzidos por eles sob sua tutela pouco tem a ver com a série que os consagrou nas duas recentes gerações. É em primeira pessoa, sim; no entanto, ''Mirror's Edge'' traz uma experiência bem diferente de ''Battlefield'' ao priorizar a ação baseada no esporte radical Parkour no lugar do tiroteio. Isto é, o foco está em ser veloz e ágil enquanto foge de inimigos armados, desarmando-os e ocasionalmente trocando tiros com eles.

A trama de ''Mirror's Edge'' é ambientada em uma cidade em um futuro não-descrito onde um regime totalitário e corrupto monitora todo e qualquer tipo de informação, manipulando-a para seus próprios fins. Naturalmente, nem todos estão contentes com esta situação, e maneiras alternativas de fazer a informação fluir fora dos olhos da lei surgiram... e o jogador faz parte dela ao controlar Faith, uma Runner que transporta informações e documentos pessoalmente, levando-os para outros Runners da cidade até que a mensagem chegue ao seu destino. Óbvio que isto não agrada nem um pouco o governo, que usará e abusará da polícia – na verdade, forças de segurança privadas -- para interceptar suas atividades. E como miséria pouca é bobagem, um dos candidatos a prefeito que poderia trazer mudança a este governo opressor é assassinado de forma que Faith ou sua irmã levem a culpa indevidamente... e o futuro dos Runners parece mais ameaçado do que nunca.

Plenamente visto em primeira pessoa, o jogador não se deve deixar enganar: Faith é uma moça com uma calça cargo, top preto e tênis esportivos que parecem tabi (meia japonesa com divisão para o dedão)... e nenhum deles é feito de kevlar, portanto encarar inimigos com armas de fogo como em outros jogos do gênero FPS definitivamente não é o melhor curso de ação. Os motivos principais do game são a velocidade e a agilidade da bela mocinha de olhos puxados: como escrito antes, o Parkour - esporte radical onde os atletas usam elementos do ambiente para se locomover, como paredes, corrimões, canos e afins – dita as regras no deslocamento de um lugar a outro da cidade, seja em ambiente aberto ou fechado. Começar a correr e não esbarrar em obstáculos fará com que Faith ganhe velocidade, garantindo saltos, caminhadas pela parede a la ''Prince of Persia: The Sands of Time'' (é como se fosse aquilo em primeira pessoa) e grandes seqüências de manobras acrobáticas. Jogando nos modos Easy e Normal, elementos do cenário que podem ser usados para as ações de Faith passam para a cor vermelha à medida que ela se aproxima; o L1 e L2 servem, respectivamente, para ações acima e abaixo – seja saltar para se agarrar numa grade e pulá-la ou deslizar por baixo de um encanamento, ou amortecer sua queda alta com um rolamento. O sensor de inclinação do Sixaxis serve para fazer com que Faith se equilibre em barras estreitas, fugindo da morte no solo.

O início do game serve para dar uma luz em relação a estas manobras e possibilidades, não só de locomoção como de combate. Além de voadoras e chutes baixos, Faith também pode desarmar inimigos que não a tenham visto, ou mesmo em meio ao combate de proximidade: ao realizar suas manobras com sucesso, é possível apertar um botão para reduzir a velocidade do tempo, e quando a arma do inimigo fica vermelha é só apertar o botão correto que sua arma será tomada após uma sucessão de golpes de perto (indo de torções de braço, enforcamentos com a perna e joelhadas na cara) e poderá ser usada. No entanto, carregar armas diminui a mobilidade, e armas como rifles a impedem de escalar muros com facilidade – acabou a munição da pistola? Jogue-a fora e siga adiante.

O layout das fases é interessante sem parecer algo irreal, e vai demandar do jogador atenção aos elementos do ambiente, mesmo com a ajudinha da marcação em vermelho dos pontos interativos. O jogador acaba se pegando imaginando trajetos a serem feitos, de onde vai subir, ou mesmo caminhar pela parede para saltar e agarrar uma barra e se balançar, e aí por diante. Bate um gosto ao conseguir realizar aquela sucessão de manobras sem perder o momento, mas podem ter certeza de que vai rolar oportunidade de sobre para tentar... pois é bem difícil conseguir passar dos desafios do game de primeira, às vezes até mesmo beirando a tentativa e erro. Sim, praticar ajuda, mas algumas passagens são simplesmente cruéis. Tente fazer acrobacias com 4 ou 5 seguranças atirando em sua direção... é, vai dar trabalho.

Levando em conta o bocado de tentativa e erro que vai rolar, a campanha principal em si dura em aproximadamente 9 horas – destrancando um grau extra de dificuldade depois disto - e a longevidade do game se garante nos desafios ocultos, na tentativa de obter todas as bolsas escondidas pela fases (assim destrancando material extra como música e ilustrações), corridas contra a CPU no esquema ''time attack'' e os leaderboards para comparar seu recorde com o de seus amigos e outros usuários online.

Em termos de apresentação audiovisual, Mirror's Edge é uma beleza. O game utiliza o versátil (e ao que tudo indica, onipresente) Unreal Engine 3, e a direção de arte é claramente distante do que os gamers mais céticos esperam do mesmo. O jogo de cores do game brinca com um branco completamente asséptico e cores fortes em ambientes e construções que pareceram feitas por arquitetos -- pois não é muito recorrente a impressão de achar estranho por qual tal objeto do cenário está em um lugar que não faça tanto sentido em prol da jogabilidade.

Mas voltemos à perspectiva em primeira pessoa: um aspecto no qual o jogo manda muito bem é o gestual dos personagens, principalmente da própria Faith. Se mesmo cambalhotas no cenário fazem com que a câmera rode como se a pessoa realmente estivesse fazendo-a (isto é, o mundo rodará de acordo), podemos ver os braços e pernas de Faith em manobras como luta, rolamentos... e mesmo em momentos menos frenéticos, como ela apontar o dedo para alguém, ou abraçar a irmã e o jogador ver os dois braços à sua volta.

Já a trilha sonora do game é bem concentrada no eletrônico, indo de um extremo a outro de forma bacana. De passagens mais calmas a outras mais animadas, o clima certo é passado praticamente o tempo inteiro. A dublagem dos personagens também não compromete, não tem exageros desnecessários e faz o serviço bem – inclusive nas belas intermissões animadas em 2D, revelando mais e mais aspectos da trama.

Mirror's Edge tem alguns tropeços que fazem com que Faith sofra com a queda. E dentro do meio do game, literalmente: como dito antes, há uma quantidade considerável de tentativa e erro em determinadas passagens do game, o que poderá irritar parte do público gamer ou induzi-los a partidas mais curtas. Em certa missão, era necessário alcançar o local mais alto de uma construção enquanto se livrava de alguns policiais... sem brincadeiras, demoramos quase uma hora para passarmos só por conta de ficar tentando se balançar de uma barra sem ser metralhado no processo. Outro elemento que também tem potencial de tornar sessões menos longas (ou mesmo desanimar!) alguns jogadores é sua câmera, que fará aqueles jogadores mais propensos a vertigem a se afastarem do jogo. Por fim, há alguns deslizes menores em relação a colisão, mas nada que comprometa de verdade o jogo.